Escola Inclusiva
Quando se fala em Educação Inclusiva, vem logo à cabeça a inclusão de indivíduos cegos, surdos, trissómicos, etc. No entanto, na abordagem a esta temática foi possível verificar uma constante modificação em relação ao conceito de populações especiais. Hoje em dia, este trabalho com populações especiais engloba as questões relacionadas com a aprendizagem, isto é, não se trata somente de pessoas com algum tipo de deficiência visível mas também indivíduos com algum tipo de problema que dificulta ou impede um percurso escolar normal. Aqui foi dado o exemplo dos sobredotados, uma vez que estas crianças têm dificuldades na escola decorrentes de mau comportamento, défice de atenção, etc, simplesmente porque estão muito “à frente”.
Se no passado tudo era muito centrado no aluno, hoje a atenção voltou-se para a escola e para os seus docentes, no sentido em que ambos devem estar preparados para acolher todos e não remeter determinados alunos para escolas especializadas (em desuso). Obviamente que há determinados casos como delinquência, uso de drogas, etc, que ultrapassam a instituição escolar e como tal tem de ser remetidos para locais apropriados.
Percebendo as estratégias e as metodologias de trabalho, consegue-se um transfer para a prática. Neste sentido o trabalho em circuito figura-se como uma metodologia interessante, dinâmica, possibilita a integração e a autonomia e não menos importante a capacidade de adaptação ao espaço, ao tipo de atividade e aos alunos (tendo em conta idade ou capacidades).
Tal como em matérias anteriores, através de uma aula prática experienciamos este processo de inclusão. Essa aula foi realizada no exterior e teve a seguinte dinâmica:
- 5 Grupos de 4 alunos. Em cada grupo havia um cego e um mudo;
- 6 Estações com atividades distintas:
- “História Encadeada” – Existia uma história, acerca de um contexto complicado em que numa aula um aluno gordo tinha sido empurrado por um colega. A partir daí cada grupo tinha de continuar a história, tentando encadeá-la com o que já havia sido feito.
- “Comboio Cego” – Os elementos do grupo formavam uma fila indiana, sendo que os cegos tinham de ir a frente e quem via ia atrás. Apenas quem via tinha acesso ao percurso a ser feito, tendo que conduzir os restantes sem recurso a contacto verbal.
- “História Valorativa” – Havia uma historia em que um rapaz apostou com uns amigos em como ia ter relações sexuais com a namorada atrás do pavilhão da escola. Fizeram-no sem preservativo enquanto os amigos assistiram ao ato, tirando fotos do mesmo. A melhor amiga da rapariga, que gostava do rapaz, ao ver aquilo foi contar ao professor de EF. Este por sua vez levou o jovem casal ao diretor da escola. O diretor por sua vez, convocou os encarregados de educação a comparecerem na escola. Quando o pai da rapariga chegou, deu-lhe um estalo e perguntou-lhe como havia sido capaz de o fazer sem proteção uma vez que era seropositiva. A partir daqui cada grupo tinha de decidir quem achava que tinha agido pior por ordem descrescente (do pior para o “melhor”).
- “Campo Minado” - Havia duas bombas. Uma delas estava num campo minado, delimitado por 4 árvores e consistia numa garrafa de 1,5L cheia de água, tendo cada grupo o desafio de conseguir retirá-la apenas fazendo uso de uma corda sem que a água tocasse no gargalo. A outra bomba era uma garrafa mais pequena que continha pequenos pedaços de madeira. O objetivo passava por tirar os mesmos sem manusear a garrafa.
- “Desporto Adaptado” - Consistia na escolha de um desporto adaptado, no qual cada grupo tinha de incluir o cego e o mudo no mesmo. Havia uma bola que poderia ser usada caso os grupos assim entendessem.
- Trocando de estações, em cada grupo trocam também os elementos que assumem os papéis de cego e mudo.
- Em cada estação existia um colaborador que explicava o funcionamento da atividade e monitorizava a mesma
Surgem assim dois olhares, o de quem “participou” e o de quem colaborou. Consequentemente as reflexões são distintas:
Grupos
O Grupo da Joana, Luísa, Marina e Olga em relação à atividade de “história encadeada” referiu que foi a que correu pior. Não tiveram tempo para valorizá-la, dado que não chegaram a um consenso. Esta situação permitiu-lhes colocarem-se na posição de docentes, quando existem desacordos. No que toca ao “comboio cego”, sentiram também dificuldade, uma vez que consideraram o método utilizado ineficaz. No que respeita à “reflexão”, todas participaram, contudo tiveram pouco tempo e como tal optaram por uma resposta mais geral. Na atividade do “campo minado” reconheceram o falhanço completo pois optaram por colocar o cego e o mudo juntos. O “desporto adaptado” foi, segundo este grupo, a atividade melhor conseguida dado que envolveram o cego conseguindo que todos participassem no jogo. Por fim referiram que no decorrer das atividades a brincadeira foi mais preponderante do que a seriedade na execução das mesmas. Em suma, consideraram que a integração do invisual acaba por ser mais fácil do que a do mudo, já que a integração pela voz foi mais importante.
O grupo da Mariana, Raquel, Marisa e Eduarda etc, optou por uma reflexão geral na qual apontaram a localização como fator motivacional. A coesão a nível de grupo fez-se de uma maneira mais marcante, conseguindo a participação de todos os elementos. Consideraram que o circuito gerou dinâmica e devido às características das atividades obtiveram uma melhor noção da realidade no que toca às dificuldades de integração de populações especiais. Concluindo, houve uma maior dificuldade de integrar o cego na maioria da atividades; no que respeita aos diferentes papéis, é extremamente diferente ser “normal” ou “especial”, sendo as visões completamente distintas.
O grupo da Ana Fernandes, Afonso, Dany, Sofia e Vitor separou a reflexão em pontos positivos e negativos. Em relação aos aspetos negativos indicaram a gestão do tempo, a incapacidade de finalizar tarefas e falhas na explicação de atividades. Como pontos positivos citaram a exigência das tarefas no sentido de que as mesmas obrigaram a um empenhamento de todos, sendo educativas e provocadoras de inclusão e reflexão. Neste grupo a estratégia passou por juntar sempre um “normal” com um “especial”, e por uma distribuição de tarefas adequadas a cada um. As maiores dificuldades passaram por incluir o invisual.
O Grupo achou as atividades “engraçadas” e destacaram positivamente o “comboio cego” (obrigava toda a gente a participar), a “História Valorativa” (a enumeração da escala de valores entre eles permitiu medir a importância individual) e a “Bomba” (trabalho em equipa era determinante para o sucesso). Negativamente apontaram a “História Encadeada” pela dificuldade que tiveram em criar algo. Concluindo, integrar o cego foi complicado, no entanto integrar o mudo foi ainda mais difícil, isto porque a comunicação verbal era muito importante.
Colaboradores
A Filipa esteve responsável pelo “Campo Minado” e indicou que todos tiveram uma prestação dinâmica, todos tentaram participar e integrar os elementos “especiais” e as estratégias de uma maneira geral foram razoavelmente bem sucedidas.
O Rui João foi o colaborador no “Desporto Adaptado”, no qual todos os grupos tiveram dificuldade de integrar o cego. Destaque para o facto de todos os grupos terem usado a bola.
O Nuno que estava na atividade da “História Encadeada” referiu que o 1º grupo desviou a história para “maus caminhos”, o que condicionou o seu desenrolar. A passagem do 2º para o 3º grupo não correu da melhor maneira dado que ele teve de se ausentar momentaneamente, no entanto assumiu esse descuido. Em relação á dinâmica dos grupos a preocupação era integrar o cego e o mudo, mas o facto de trocarem de papéis em casa atividade não permitiu a consciencialização completa, e o que sobressaía era a personalidade de cada um.
O António, responsável pela “História Valorativa” acusou que todos os grupos se empenharam na realização da mesma, chegando todos a um consenso no que respeitou à forma de inclusão dos elementos.
O João estava na zona do “Comboio Cego” e mencionou que foi uma atividade recompensante pois todos os grupos se empenharam em fazê-la. Como ponto negativo apontou um erro na transmissão da atividade (apenas o que via o trajeto não podia falar e não todos os elementos), que apesar de ter sido transmitida de igual maneira a todos os grupos não foi a correta.
Em forma de apanhado geral fica claro que com mais preparação as atividades correm melhor. O papel do professor é estar sempre presente, principalmente nas mais complicadas.
Em relação a capacidades todas nós temos a ideia de que o professor “deve, “deve”, “deve”… . É verdade que nós, enquanto futuros professores devemos ter esta e aquela capacidade, no entanto as dificuldades que os grupos tiveram de no momento organizar um desporto adaptado, serão as nossas quando numa turma tivermos de, no imediato, engendrar um plano para incluir determinado(s) aluno(s).
Por fim, uma referência para os especialistas desta área (que estarão num seminário a realizar mais para o final do ano letivo) que são Tom Martinek, Jim Stiehl, Dan Hellison entre outros. Se lá fora este tema de Educação Inclusiva já tem uma grande dinâmica, em Portugal começa agora a aparecer, existindo 3 ou 4 mestrados e o Doutoramento que está a ser realizado pela Professora Leonor. Importa para nós tentar perceber como estas pessoas trabalham, retirar ensinamentos que serão uma mais-valia no nosso, não muto distante, futuro.